Os Caminhos do Retorno: Tecendo redes e fortalecendo relações
Esta iniciativa se desdobra a partir do projeto-residência Ateliê-Lavrado, realizado em 2023 pelo artista Gustavo Caboco Wapichana juntamente com Roseane em parceria com o SDCELAR e o Centre for Latin American and Caribbean Studies (CLACS) da Universidade de Londres. O Ateliê-Lavrado se desenvolveu em torno da coleção Wapishana no Museu Britânico composta por instrumentos tradicionais para fiar e tecer fios de algodão, coletados entre os séculos XIX e XX ao longo da atual fronteira amazônica entre Brasil e Guiana.
Roseane Cadete Wapichana, Londres, 4 de abril de 2024
‘Eu represento muitas vozes Wapichana. O nosso povo é um dos maiores povos do estado de Roraima, e talvez nem 1% saiba que uma parte da história está aqui, do outro lado do Velho Mundo. Eu venho nesse redemoinho de incomodações de muitos dos nossos, que estão incomodados com as nossas histórias que foram contadas por linhas tortas. Mas a nossa história vive, e ela escolhe alguém para contar e para trazê-la de volta para o nosso povo. Em meio a essa ventania, em meio a esse redemoinho, eu sinto que fui escolhida por ter sido neta de um dos maiores tuxauas [cacique] dessa região. O universo, os ventos das serras, o vento dos lavrados me escolheu para vir encontrar com esses objetos e trazer de volta a nossa história.’
SDCELAR Roseane, conte-nos um pouco sobre o seu trabalho como historiadora e educadora junto às juventudes e comunidades indígenas em Roraima?
Roseane Como professora, sempre me posiciono com o retorno. Quando a escola chega nas nossas comunidades, ela chega para “domesticar os cidadãos” para que eles possam se tornar obedientes, para obedecer à imposição do Estado. A partir do discurso de Gersem Baniwa, que é um grande escritor da Amazônia e que aborda a escola nesse contexto, eu trago essa ênfase e utilizo a sala de aula para fazer, hoje, o discurso ao contrário, desconstruindo esse discurso colonial. Eu utilizo a sala de aula com os jovens, com os alunos e também com as crianças para sensibilizar, através da história da nossa luta do território, a busca da continuação das nossas memórias e da própria existência das gerações que estão por vir. A consolidação do território traz essa preocupação, e eu me posiciono sempre como a figura de quem deve estar sensibilizando o jovem, as pessoas que estão ali o tempo todo, aliciadas por políticos e pelas igrejas, para que possamos continuar essa nossa história de luta, a qual em grande medida tem sido fragmentada desde a invasão dos nossos territórios e da colonização. Essas provocações são feitas rotineiramente aos alunos, principalmente a partir das aulas de História. E eles trazem esse retorno, de compreender o contexto em que estão inseridos, de deixar um pouco a política, de deixar um pouco a religião, e entender que nós temos uma identidade e que nós já tínhamos uma religião antes de termos uma Religião imposta, e já tínhamos uma educação antes de termos uma Educação imposta pelos missionários.
SDCELAR Fale mais sobre esse ‘retorno’ que você menciona como algo tão central na sua prática atual e na sua trajetória até aqui?
Roseane Eu fiz o curso de História na Universidade Federal de Roraima, e entrei no curso através de ações afirmativas, que foi uma luta dos nossos tuxauas, dos nossos líderes, dos nossos ancestrais, para que pudéssemos chegar a esses espaços. A universidade chega para a gente, e por que nós não ocupamos esses espaços? Então o museu chega para a gente, guarda nossas coisas, por que nós não ocupamos esses espaços? Então quando eu falo da minha formação política, social e pessoal, eu falo desse fruto. Eu sou fruto de uma luta de anos, que veio de uma educação violentada, fragmentada, embora mais tarde, nossos líderes passaram a ter a preocupação de buscar uma educação que respeite as nossas vivências. Eu saio da comunidade para ir para a cidade aos 17 anos para cursar o nível superior, que foi o curso de História, pois era uma das vagas que tinha – a primeira turma para alunos indígenas. Já foi uma responsabilidade fazer uma licenciatura em História, que era para logo voltar para dar aula para a comunidade, como retorno dessas lutas. E aí eu decidi passar mais três anos para cursar um bacharelado, também no campo da pesquisa, para entender mais a nossa história. Eu costumo dizer para o meu povo Wapichana que fui para a universidade cursar um curso que quase ninguém quer fazer, porque a maioria quer fazer curso de elite: medicina, direito, enfermagem, psicologia.
‘Porém, esquecemos da nossa história, né?’
Esse retorno da universidade para a comunidade traz essa responsabilidade. Para o meu povo, eu trago esse retorno: de que me mandaram para estudar através de lutas, de briga mesmo para que a universidade oferecesse vagas para nós indígenas, porque não dá para competir. Por exemplo, eu estudei o colegial inteiro dentro de uma escola indígena, e vou competir com um aluno que estava dentro de uma escola particular, que teve mais carga horária, mais recursos, estudou muito mais do que eu? Então, foi graças à ação afirmativa que eu entrei: “Entrou uma nossa!” E trago essa responsabilidade. Hoje, para o meu povo poder ministrar aula dentro do meu território, trazer esses debates do que é e do que foi a nossa luta pelos direitos garantidos na Constituição de 88 – somente os dois artigos 231 e 232 que falam dos nossos direitos -, significa trazer uma luz para quem nunca conseguiu entrar em uma escola ou quem teve que enfrentar outros caminhos porque foi impedido de chegar na escola. Eu trago essa responsabilidade: sempre vou abordar esse retorno. E o museu traz esse espaço de debate que nós precisamos estar ocupando, mesmo que em uma visita, para entender como é que está contada a nossa história. Não só os museus, mas todos os órgãos, a escola, o próprio parlamento, que discute e debate os nossos direitos, as nossas vidas, que estão em jogo, a legislação que estão criando para os povos indígenas, para os agricultores, por exemplo, para os ruralistas. Enfim, nós precisamos estar por dentro de tudo o que nos remete aos nossos direitos.
SDCELAR O atual projeto do SDCELAR com o qual você está colaborando agora se propõe a remapear as coleções amazônicas no Museu Britânico situando o ‘território’ como conceito chave para compreender a região e sua diversidade biocultural, bem como para repensar a forma de olhar para os objetos. Como seu trabalho dialoga com essas reflexões?
Roseane Eu costumo enfatizar que os limites traçados pelos europeus na colonização do nosso território Wapichana nos fazem carregar duras marcas dessa colonização, marcas muito pesadas. A partir do meu posicionamento como professora indígena, mulher indígena, historiadora indígena e da minha etnia, eu coloco sempre o território como local da fala, local da memória presente, local da continuação da história e dos fortes traços da resistência para continuar nossa existência. Então, para que o meu povo continue existindo daqui a 10, 20, 30 anos, nós precisamos estar nessa linha da fala do território a partir da resistência para poder continuar nossa existência. Essa experiência com o museu foi uma experiência ímpar, única, e até cobiçada por alguns colegas da área de formação que sonham em um dia visitar o Museu Britânico. E, de repente, eu tive esse privilégio de encontrar esses objetos que estão guardados aqui e, através deles, encontrar o espírito da nossa ancestralidade Wapichana.
‘Quando eu chego a uma reunião com a comunidade Wapichana, todos ficam muito surpresos porque não sabem que tem um abano guardado aqui, uma rede de algodão, um chocalho de 1930, porque os nossos objetos são feitos para serem usados, e quando são usados, eles voltam para a natureza. É uma novidade ter algo guardado e tão longe de casa.’
Os objetos carregam memórias, como eu costumo falar. Sentir o fio do algodão, sentir o corpo é sentir a presença espiritual da nossa ancestralidade, é sentir a memória, e isso me faz retomar uma história que foi fragmentada desde 1500, quando o nosso território foi invadido, quando as nossas casas viraram fazendas, viraram lavouras. Hoje, essa história é contada ao mundo, e eu tenho a tarefa de fazer essa ponte. Eu coloquei num texto anterior que foi um redemoinho que me trouxe, me trouxe através do vento, me fez atravessar o oceano e chegar ao encontro da minha ancestralidade. Assim, a gente continua colaborando, enquanto pesquisadora, enquanto professora, enquanto indígena, enquanto liderança também, porque tenho uma responsabilidade muito grande com as comunidades, principalmente com a minha comunidade para contribuir com o não apagamento da nossa memória. Por isso, essa experiência se torna um campo muito importante dentro da história dos povos Wapichana. E também trago essas marcas da colonização Guiana-Brasil, Brasil–Guiana muito presentes ainda, e convivo diariamente com isso.
Am1995,14.9, © The Trustees of the British Museum
SDCELAR Durante o seu discurso no evento ‘Strengthening Treads: Opening Paths for Museum-Community Healing? A Wapichana Residency’, você mencionou que colaborações como esta podem representar um espaço de reparação da violência do colonialismo e desterritorialização do povo Wapichana. Pensando na curadoria como conjunto de práticas museais, na sua opinião, qual deve ser o papel dos museus nesse outro processo de cura?
Roseane Hoje, nós entendemos que a humanidade está doente. A humanidade pede socorro, em todos os sentidos. Eu me remonto ao meu povo Wapichana, onde as escolas, igrejas e museus foram introduzidos chegando nas comunidades como uma imposição do Estado. Uma imposição que buscou e busca ainda hoje nos manipular, nos tornar obedientes. É um crime histórico que foi praticado no nosso território. Podemos enfatizar os europeus, incluindo os holandeses, os ingleses, os espanhóis e, principalmente, os portugueses, que se consolidaram no nosso território e nos deixaram com pequenos territórios demarcados em ilhas. Não é uma reparação histórica que vai resolver todo esse impacto do colonialismo. E nem esse impacto da desterritorialização, que também não vai resolver. Mas nós podemos entender hoje esses espaços como a escola, o museu, principalmente desde a perspectiva indígena Wapichana como um caminho de fortalecimento para buscarmos articulações e debates plurais. Porque não foi só meu povo que foi violado, foram diversos. Entendemos esse espaço como um encontro desse discurso plural para todos os povos indígenas que tiveram suas histórias entrelaçadas nesses descaminhos coloniais da história. Podemos pensar no museu como esse caminho de conexão; mesmo eu vindo de um ambiente totalmente distinto, mesmo eu estando num território que sobreviveu a esse processo de colonização, que sobrevive até hoje a tantas outras formas de escravidão, que vai desde a fazenda, igreja, termelétrica, de proibição da língua e da fala, nós podemos entender o museu como um espaço de articulação, para levantar esse debate na sociedade e gerar o entendimento de que nós não podemos estar num processo litigioso por sermos povos distintos. Acima de tudo, nós somos povos de um universo, não é a cor da pele que vai nos tornar inimigos. Precisamos entender o museu como esse campo de debate, esse campo de conexão, em territórios totalmente distintos, mas que têm um elo que nos liga, que é essa história dos descaminhos e caminhos da colonização e descolonização que hoje também estão em debate.
SDCELAR Os instrumentos e fusos usados para a tecelagem e fiação do algodão na coleção Wapishana no Museu Britânico foram centrais para o projeto Ateliê-Lavrado, realizado em parceria com o artista Gustavo Caboco Wapichana em 2023. Qual é a significância desses materiais para o povo Wapichana vivendo ancestralmente na região da fronteira amazônica entre o Brasil e a Guiana?
Roseane Quando eu falo que sou apenas uma voz que veio representar essas e tantas outras vozes mais sábias, é para mostrar que o nosso território foi violado pela fronteira que divide o Brasil e a Guiana, esta na época colonizada pela Inglaterra. As coleções do museu mostram que os nossos territórios foram fragmentados, mas quando nos encontramos com esses objetos aqui no museu e conectamos o fuso do canauani com o fio de algodão que fizemos com as mulheres no Ateliê–Lavrado, surge esse outro entendimento do patrimônio imaterial e do patrimônio material: a arte do saber fazer, a arte do saber usar. De repente, esses objetos saem dos nossos territórios e vêm para cá. Ficam guardados, né? Para mim, esse encontro teve a importância de um reencontro entre avós e netos. Um objeto de 1930 foi trazido para cá, mas quem sabe ele foi feito em 1920, que foi o ano que o meu avô nasceu. Eu entendo a importância desse projeto como esse encontro entre avós e netos dentro de uma fronteira que foi traçada pelos europeus e que hoje é inevitável. E nós, Wapichana, estamos nos dois lados. Estamos ora na Guiana, ora no Brasil, mas não deixamos de ser Wapichana. Esse objeto traz a história de algum ancião, de alguma anciã, ou um canto que alguém estava fazendo e cantando; de alguém que tirou as palhas e fez uma oração. Ou alguém que, na hora da trança, pediu permissão à natureza. Isso traz um símbolo muito grande de representatividade e de elementos que, para nós, são importantes e sagrados dentro da cosmologia Wapichana. Porque para a gente tirar uma palha, um timbó ou algo da natureza nós pedimos permissão para que ela não nos castigue por estarmos ali tirando algo que vai ser útil para o nosso dia a dia, mas quando não tiver mais utilidade, vai voltar para a natureza.
Roseane Cadete Wapichana interagindo com uma rede Wapichana durante uma visita ao Museu Pitt Rivers como parte do projeto Ateliê-Lavrado em 2023. A bandeira Wapichana com os dizeres “Avô e Avó” foi feita pelo artista Gustavo Caboco. Foto: Diego Atehortúa.
SDCELAR Há algum objeto na coleção que tenha um significado especial para você? Qual e por quê?
Roseane A rede. Para qualquer Wapichana que você perguntar, seria a rede. A rede, por trazer diversas relações, não só sociais, da mesma forma que os sarcófagos, as múmias ou a Pedra Roseta, que foi a chave para entender os hieróglifos do povo egípcio. Pois não é só uma rede, ela representa toda uma relação socioambiental, uma relação de pessoas, todo o trabalho de uma família: o envolvimento do pai, da mãe, da criança, do avô, o conhecimento do tempo, do clima, dos problemas socioambientais. Enfim, é um conjunto de elementos, e nós podemos ver a rede como objeto que pode dar representatividade ao povo Wapichana. Hoje, produzir um fio de algodão é um desafio muito grande. Mesmo nós que somos netas temos dificuldade de manter esse patrimônio imaterial e material. Fazer o tear, a rede, e trazer a fala dos fios, a fala do corpo, a fala do território, a fala da memória, a fala da resistência, a fala dos lavrados, das matas, das serras, há todo um conjunto de elementos que a gente traz para esse tempo dos netos agora para entendermos toda a nossa trajetória. Porque, para se construir uma rede, precisa-se de várias mãos para fazer o fio: desde o cultivo do algodão, a produção do fio, até a produção da estrutura do tear. E para fazer os punhos, eu preciso da criança para segurar. Há o envolvimento de muita gente. A rede representaria muito bem esse conjunto de relações: sociedade-natureza, do povo Wapichana com a natureza. E também poderíamos vê-la como relações com outras instituições, por exemplo, com o museu. É como um desenho, que o Gustavo até ilustrou, um do Ateliê, um punho, que é um pedaço da rede no Ateliê e outro, no museu, que representa não só uma rede, mas uma relação, um conjunto de relações que vão além de um fio de algodão.
Am1950,01.1, © The Trustees of the British Museum
‘São essas relações que precisamos fortalecer. Quando eu retornar, eu vou estar compartilhando todas essas informações com as duas comunidades, onde eu moro e onde dou aula, porque as duas são compostas por Wapichanas, que são heranças desse processo colonial, pois vieram da Guiana e ora estão no Brasil, ora estão na Guiana. Mas que sobrevivem a esse processo, ainda hoje da escravidão na lavoura, das termelétricas, dos fazendeiros. E a gente está ali para não deixar morrer, fazendo o papel social, cumprindo a função social de historiador.’

Roseane Cadete Wapichana é historiadora e educadora do povo Wapichana, com atuação no ecossistema de savana de Roraima denominado lavrado, na região amazônica. Com especialização em História da Amazônia pela Universidade Estadual de Roraima (UERR) e mestrado em Sociedade e Estudos de Fronteira pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), Roseane é apaixonada por contar as histórias dos Wapichana por meio da arte. Sua dedicação à educação, à pesquisa, à história e à arte é testemunho de seu compromisso com a cultura, o conhecimento e a narração de histórias Wapichana, bem como de seu empenho em conectar narrativas do passado e do presente. Para além do âmbito acadêmico, Roseane participou de diversas colaborações artísticas, incluindo "Corpo Território Memória Ancestral", a 34ª Bienal de Arte de São Paulo, Extensão Wapichana, e o filme e instalação "Somos Fronteiras Vivas", como parte da exposição Atos de Revolta no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foto: © Wanderson Wapixana, 2021
Publications related to women’s and maternal health with Wixárika communities by the author of this exhibition
Gamlin, Jennie B. (2013)
Shame as a barrier to health seeking among indigenous Huichol migrant labourers: An interpretive approach of the “violence continuum” and “authoritative knowledge”
Social Science and Medicine 97 75-81
Gamlin, Jennie B. (2023)
Wixárika Practices of Medical Syncretism: An Ontological Proposal for Health in the Anthropocene
Medical Anthropology Theory 10 (2) 1-26
Gamlin, Jennie B. (2020)
“You see, we women, we can’t talk, we can’t have an opinion…”. The coloniality of gender and childbirth practices in Indigenous Wixárika families
Social Science and Medicine 252, 112912
Jennie Gamlin and David Osrin (2020)
Preventable infant deaths, lone births and lack of registration in Mexican indigenous communities: health care services and the afterlife of colonialism
Ethnicity and Health 25 (7)
Jennie Gamlin and Seth Holmes (2018)
Preventable perinatal deaths in indigenous Wixárika communities: an ethnographic study of pregnancy, childbirth and structural violence BMC
Pregnancy and Childbirth 18 (Article number 243) 2018
Gamlin, Jennie B. and Sarah J Hawkes (2015)
Pregnancy and birth in an Indigenous Huichol community: from structural violence to structural policy responses
Culture, health and sexuality 17 (1)
Publicaciones relacionadas a mujeres y salud materna con comunidades wixárika, por la autora de esta exhibición
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