Territórios da retomada cultural Pataxó
Durante muito tempo, a cultura indígena Pataxó, da região Nordeste do Brasil, esteve adormecida, invisível e esquecida, uma vez que o próprio fato de ser indígena era uma causa de grande discriminação e perseguição. No entanto, desde que o processo de redemocratização do Brasil começou no final dos anos oitenta, começou um movimento de recuperação indígena, que chamamos de “retomada”.
A “retomada” significa a recuperação dos territórios indígenas tradicionais e da sua cultura por parte das gerações indígenas mais jovens. Procuram reunir os conhecimentos dos mais velhos a fim de se reconectarem com a sua história e cultura, reafirmando a sua identidade Pataxó e evitando o seu desaparecimento.
Os elementos mais importantes são a recuperação da língua pataxó, a recuperação dos rituais locais e a recuperação das técnicas tradicionais de criação de objetos através de uma releitura por artistas pataxó contemporâneos. Como resultado, este processo tem facilitado a luta pela terra, a reivindicação dos direitos e a procura da sua própria educação.
O principal objetivo deste projeto, como parte desse movimento mais amplo de “retomada”, é criar uma colecção digital chamada Territórios da retomada Pataxó, através de um trabalho de curadoria compartilhada entre o grupo de pesquisa Centro de Documentação e Estudos Memórias do Sul da Bahia, sediado no Centro de Formação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Sul da Bahia (CFCHS/UFSB) e o grupo de investigação Língua e História Pataxó – Atxohã, um grupo de pesquisa autónomo e independente organizado em rede por várias lideranças indígenas pataxó.
O grupo de pesquisa Língua e História Pataxó – Atxohã tem uma trajetória muito consolidada na região sul do Estado da Bahia, com uma forte presença em mais de trinta comunidades indígenas espalhadas pelo território pataxó. Neste sentido, a coleção Territórios da retomada pataxó terá uma curadoria compartilhada, na qual os membros do Atxohã desempenharão um papel central: farão parte de todo o processo desde a sua concepção até à sua gestão, bem como farão as pesquisas necessárias para fazer a seleção da colecção.
Esta seleção incluirá consultas com os mais velhos durante as quais a história oral será expressa. Esta curadoria partilhada incluirá também a participação dos maiores expoentes da arte pataxó contemporânea de hoje, incluindo Arissana Pataxó, Oiti Pataxó, Jerry Matalawê, entre outros.
Um projeto como este tem importantes implicações políticas e sociais para a comunidade pataxó em geral. Através da pesquisa coletiva e da digitalização de fontes escritas, orais e iconográficas, entre outras, a coleção Territórios da retomada pataxó facilitará os processos de demarcação dos territórios pataxó, muitos dos quais estão ainda em disputa.
Em segundo lugar, através da curadoria compartilhada, procuramos descolonizar os processos tradicionais de construção de coleções, desconstruindo assim a ilusão museográfica ocidental sobre os povos nativos americanos. Finalmente, a coleção permite-nos propor outros regimes de memória ou narrativas históricas que procuram contribuir para uma maior apreciação do mundo pataxó e do trabalho criativo e artístico dos seus artesãos e artistas contemporâneos.